Brasil enfrenta aumento da incidência de sífilis em gestantes e bebês

Data: 18.01.2017

A falta de penicilina benzatina, usada contra a sífilis adquirida, e ausência de benzatina cristalina, indicada para bebês com sífilis congênita, estão entre as razões para a instalação da epidemia de sífilis no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, o fármaco estava em falta em 60% dos estados no início de 2016. Apesar de não ser sua responsabilidade inicial, o governo federal tem adquirido a penicilina como forma de garantir a distribuição. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dispensou o registro da matéria-prima para a produção dos dois antibióticos, como forma de ajuda. Ao anunciar ações estratégicas para o combate à sífilis, o ministro da Saúde Ricardo Barros admitiu que o Brasil enfrenta uma epidemia da doença. Em 2015, por exemplo, foram notificados 65.878 casos de sífilis adquirida no País, sendo 33.381 em gestantes. A taxa entre elas aumentou de 3,7 para 11,2 casos a cada 1 mil nascidos vivos, entre 2010 e 2015 – um aumento em torno de 200%. No caso da sífilis congênita, as taxas foram de 2,4 para 6,5 casos para cada 1 mil nascidos vivos, no mesmo período. Em 2015, o País registrou em torno de 40 mil casos de sífilis congênita. As mortes provocadas pela doença também cresceram de forma expressiva: a taxa de mortalidade é de 7,4 casos para cada 100 mil nascidos vivos. A falta de penicilina é mundial, já que os fabricantes do princípio ativo, localizados na Índia e China, têm reduzido a produção como uma forma de pressionar o mercado pelo aumento de preços. Atualmente, quatro laboratórios brasileiros estão aptos para produzir o medicamento, mas dependem de insumo importado. Como forma de incentivar a produção, o governo propôs o aumento do preço da penicilina de R$ 6 para R$ 9. A majoração ainda será validada pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, formada por representantes dos ministérios da Saúde e Fazenda e da Anvisa. Choque anafilático – O medo de que a paciente tenha choque anafilático nas dependências das unidades básicas de saúde (UBS) também gera insegurança em enfermeiros e técnicos de enfermagem na aplicação de penicilina benzatina. Em 2014, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) instituiu, através do Parecer nº 8/2014, uma série de exigências para que profissionais de enfermagem administrassem penicilina. Em janeiro de 2015, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec) aprovou um relatório de recomendação que preconizava a manutenção da penicilina benzatina para prevenção de sífilis congênita, sob o argumento de que a possibilidade de choque anafilático é mínima. O texto também indica o procedimento a ser seguido nos casos do choque. Depois da recomendação, o Cofen revogou seu Parecer. José Carlos Perini, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), lembra que reações anafiláticas em decorrência da aplicação da penicilina são raras, estimadas entre 0,01 e 0,05%, com taxa de mortalidade decorrente desses episódios entre 0,0015 a 0,002%. Em crianças, este percentual é ainda menor. “É um evento muito raro, mas, para o profissional de saúde que está prestando o atendimento onde o caso ocorre, tem peso de 100%”, pondera. Diante da situação, a Asbai aprovou um posicionamento técnico sugerindo que todas as UBS disponham de pessoal capacitado para o diagnóstico e o tratamento de reações alérgicas, assim como do material necessário para sua abordagem. “O médico é quem vai definir as doses de medicamentos para o resgate do paciente, em função do quadro clínico e das condições de saúde do paciente”, reforça Perini.