Vírus gigante é descoberto na Amazônia

Data: 14.05.2014

Parasita batizado de Samba foi encontrado em ameba no rio Negro e é o maior vírus já identificado no Brasil

Achado pode ser importante para a saúde humana, já que supervírus podem causar pneumonia

REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As águas do rio Negro, nas vizinhanças de Manaus, abrigam o maior vírus já descoberto no Brasil, um parasita microscópico comparativamente tão grande que chega a superar algumas bactérias em tamanho e complexidade do DNA.

Batizado de SMBV, ou simplesmente vírus Samba, ele foi descrito por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), em parceria com colegas franceses, na revista especializada “Virology Journal”.

A descoberta pode ser importante tanto para a saúde humana –já que alguns vírus gigantes como o Samba parecem ser capazes de causar pneumonia– quanto para entender melhor a natureza dos vírus.

Vírus gigantes são raros, mas não são necessariamente mais perigosos por serem grandes. O primeiro parente do Samba a ser bem estudado foi descoberto em 1992, na água de um bebedouro de hospital em Bradford, Reino Unido. Verificou-se então que esse vírus infectava amebas, micro-organismos que possuem células relativamente complexas.

Após recolher 35 amostras de água do rio Negro, numa rota de 65 km a partir de Manaus, a equipe conseguiu isolar o SMBV em laboratório.

“Provavelmente ele está infectando outras coisas na natureza, mas ainda não sabemos qual seria esse hospedeiro”, contou à Folha um dos autores do estudo, Jônatas Santos Abrahão, do Departamento de Microbiologia da UFMG. “Vimos que ele também é capaz de se multiplicar em células do sangue humano, de forma similar ao que acontece nas amebas.” Por enquanto, não se pode descartar a possibilidade de que ele também cause pneumonia em humanos.

Como os demais vírus, o Samba lembra uma espécie de “Lego” de moléculas orgânicas. Possui uma carapaça coberta com um matagal de fibras –o conjunto é cinco vezes maior que um vírus da gripe, por exemplo. Debaixo de várias camadas de proteção está o DNA do parasita, formado por 1,21 milhão de “letras” químicas, mais ou menos meio milésimo do tamanho do genoma humano. Trata-se de um genoma mais complexo que o de várias bactérias.

O que os vírus não têm, diferentemente das bactérias e de outros seres vivos, porém, é uma célula própria. Para se reproduzir, o Samba precisa “sequestrar” o maquinário da célula que invadiu.

CARONA

Outra prova de que o SMBV é um gigante do mundo viral é a descoberta de que outro vírus menor é capaz de parasitá-lo. Trata-se do RNV, ou Rio Negro, conhecido pelo termo técnico de “virófago” –literalmente, um devorador de vírus.

Comparações entre o DNA de todos os grandes grupos de seres vivos indicam que a linhagem representada pelo Samba e por outros vírus gigantes é extremamente antiga, o que poderia indicar a participação desses seres, de alguma maneira, na própria origem dos seres vivos. Abrahão considera essa ideia improvável, porque eles não parecem ser capazes de sobreviver sem a ajuda de organismos com células.

“O que pode ter acontecido é que, um dia, eles podem ter vindo de organismos celulares, mas passado a se multiplicar sem eles, parasitando outras células”, afirma.

 

Fonte: Folha de São Paulo