O Alerta da Sífilis.

Data: 01.03.2016

Colaboradores do CEADS como o Prof. Dr. Luiz Jorge Fagundes, Coordenador Científico do CEADS, o Prof. Dr. Ricardo Romiti , Presidente do CEADS e Prof. Dr. Mario Cezar Pires, Vice Presidente do CEADS, Há muito tempo vem chamando a atenção para o crescimento dos casos de sífilis, em especial a sífilis congênita,pois estamos sem a medicação Penicilina Benzatina, que comprovadamente é a droga que elimina a sífilis do feto de uma mãe sifilítica.Esses três colaboradores do CEADS , trabalham com a sífilis há mais de trinta anos e não se conformam com o encerramento das atividades do Ambulatório de Doenças Sexualmente Transmissíveis do Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza da Faculdade de Saúde Pública da USP.Esse Ambulatório que existe há 65 anos era o único no Estado de São Paul o que faz todos os exames de laboratório de DST.Nem o Hospital das Clínicas da USP, ou outras Escolas de Medicina e alguns Laboratórios importantes de São Paulo fazem todos  os exames específicos para DST. Essa é a primeira de uma série de informações que o site do CEADS trará sobre a situação da sífilis no Brasil e, em especial São Paulo.

O alerta da sífilis

Como a ausência de políticas públicas trouxe de volta ao País a doença infecciosa que tem consequências devastadoras, mas que pode ser facilmente evitada

 

Cilene Pereira ([email protected])

Como se não bastassem a zika, a dengue e o chikungunya, os brasileiros estão sob ameaça de outra doença de consequências igualmente assustadoras. A ineficácia das políticas públicas fez explodir os casos de sífilis no País. Nunca foi tão alto o número de gestantes e bebês acometidos pela terrível enfermidade infecciosa transmitida pela bactéria Treponema pallidume que, se ocorrida ao longo da gestação, pode provocar nos fetos malformações como a microcefalia, ou, após o nascimento, surdez, cegueira e até morte. Em 2007, o total de crianças de até um ano de idade nascidas com a doença (forma congênita) foi de 5.535. A projeção para este ano é a do nascimento de mais de 22,5 mil bebês nesta condição. Onze anos atrás, o País registrou cerca de 1,8 mil casos de gestantes infectadas. Neste ano o total ultrapassará 40 mil. E por que o Brasil coleciona mais essa mazela? Atribui-se ao aumento de notificações – o problema já existiria, mas só agora sua real dimensão foi conhecida –, à falta de uma campanha de prevenção e, o mais grave, à falha na distribuição de medicamentos

1

 

É mais uma das vergonhas nacionais. Países como Canadá, Estados Unidos, Nicarágua e Barbados atingiram há três anos a meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de controle da doença (0,5 casos a cada mil nascidos vivos). No Canadá, por exemplo, em 2013 foram notificados os nascimentos de três bebês com sífilis. Nos EUA, no mesmo ano, foram 429. Enquanto isso, naquele período, o Brasil ultrapassou a marca de 13 mil crianças infectadas.

Os altos números também escancaram a falha na assistência às grávidas contaminadas. A sífilis tem tratamento seguro e eficaz tanto ao longo da gravidez, para evitar a transmissão da bactéria da mãe para o feto, quanto depois do nascimento. Na primeira circunstância, a indicação é a penicilina benzatina, e, na segunda, a penicilina cristalina. Portanto, bastaria a realização de um pré-natal como manda a cartilha – desde o início da gravidez e a aplicação do teste diagnóstico ao longo dos nove meses – e, em casos positivos, garantir às gestantes e aos bebês o acesso aos remédios. “É uma doença que pode ser prevenida e tratada. Mas a assistência materno-infantil no País é muito ruim”, afirma o infectologista Hélio Bacha, da Sociedade Brasileira de Infectologia.

2

FALHA
Hélio Bacha, da Sociedade Brasileira de Infectologia: crítica ao tratamento e à prevenção

Há muitas mães que não fazem o teste ou o fazem no final da gravidez, quando o feto já está desenvolvido, e milhares que não recebem os medicamentos. Um informe do próprio Ministério da Saúde do início deste mês retratou a situação calamitosa do abastecimento de penicilina no País. Nos dia 28 e 29 de janeiro, o Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais constatou que 60% das 27 unidades da Federação não tinham a penicilina benzatina. E a do tipo cristalina faltava em todos os Estados.

O governo federal atribuiu o desabastecimento à falta mundial de matéria-prima para a fabricação dos remédios, produzida na China e na Índia. E que, embora a responsabilidade pelas compras seja dos Estados e municípios, empenha-se em sanar o problema. Na semana passada, anunciou a compra emergencial de 2,7 milhões de frascos da penicilina benzatina, a serem entregues no mês que vem. “O desabastecimento criou uma dificuldade a mais”, afirma Alberto Beltrame, secretário de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde. Novamente, o que se vê aqui é o governo correr atrás para tentar remediar uma tragédia já instalada. Há anos é assim com a dengue e agora com a zika e a sífilis.

3

A sífilis é uma doença que pode ser evitada com o uso da camisinha, uma vez que a principal via de transmissão é a sexual (inclusive por meio do sexo oral). Desta maneira, sua prevenção exige o uso de preservativos nas relações. Mais uma falha do governo. Além de não informar a população sobre a doença e aprimorar os programas de planejamento familiar, não promove campanhas de prevenção.

“Os dados são assustadores”

Secretário de Saúde de São Paulo, o infectologista David Uip afirma que a explosão da sífilis não ocorreu do dia para a noite

4

AVISO
David Uip: ”O poder público precisa intervir”

ISTOÉ – Por que a sífilis entre gestantes e bebês aumenta tanto no Brasil?
David Uip –
Os dados são assustadores. Alerto para essa situação há algum tempo. Não é algo que aconteceu do dia para a noite.

ISTOÉ – Quais as razões disso?
Uip –
Há uma banalização em torno das doenças sexualmente transmissíveis. Estamos vendo o crescimento de muitas dessas enfermidades. As pessoas precisam usar o preservativo nas relações. E o poder público precisa intervir.

ISTOÉ – Com que tipo de ações?
Uip –
É importante que o acompanhamento na gestação seja bem-feito, mas muitas grávidas não estão chegando ao pré-natal. No Brasil, 23% dos casos foram diagnosticados no terceiro trimestre de gravidez, o que significa que até então essas mulheres não tinham nenhuma assistência.

ISTOÉ – Quais os outros problemas?
Uip –
Muitas vezes a mulher faz o teste na primeira consulta apenas. Mas ela pode se contaminar durante a gestação. Dados indicam que 52% dos parceiros não foram tratados. Ou seja, a mulher continuava em risco. Além disso, em 16% dos casos as gestantes receberam tratamento inadequado. Tudo isso é muito preocupante.

Fotos: iStock; João Castellano/ISTOÉ; Fabiano Cerchiari