É impossível gerenciar sem ter formação

Data: 30.08.2016

Era uma vez um camarada chamado Pedro. Ele tinha um amigo do qual gostava muito, que já não via há um certo tempo. Pedro sabia que a data do aniversário do amigo estava próxima e pensou em dar-lhe um presente. Não um presente comum, mas algo diferente, incomum. Então começou a busca. Depois de um período de pesquisa e procura, pronto. Lá estava ele no interior daquela loja, nada habitual, com o gerente lhe dizendo:

– É exatamente o que o sr. está procurando!… Vai cair como uma luva para o seu amigo.

Pedro ficou pensativo, recalcciirante, até mesmo desconfiado. Mas, diante da abordagem contundente do gerente, esmoreceu.

Principalmente quando ouvia:

– Vamos lá, Coutinho, fale algo para o nosso cliente.

Perplexo, quase não acreditou.

Mas era verdade. Aquele pássaro estava falando e… em inglês. E, pasmem, o danado do pássaro ainda dominava, com fluência, mais seis línguas.

Pedro ficou maravilhado. Mais do que depressa comprou o pássaro e o enviou para o amigão.

Passaram-se os dias. Passaram-se duas semanas, três. Nada do amigo se manifestar. Até que, no limite de sua ansiedade, Pedro resolveu ligar. Telefonou:

– Oi, Carlinhos.

– Oi, Pedro.

– Carlinhos, você recebeu o meu presente?

– Claro Pedro, uma maravilha!

– Você gostou mesmo?

– Claro cara! Com arroz então estava uma delícia!

Às vezes, observando o ambiente das organizações, fico pensando quantos gerentes não estão comendo pássaros de sete línguas com arroz, com salsicha, ou com outra mistura qualquer. O que está acontecendo? Será um problema de comunicação? Sem dúvida. Mas, um problema de cuja causa maior é a falta de sintoma conceitual.

Como diz o bom e velho Peter Drucker. “Boa parte dos gerentes nem sequer percebe que prática, ou que pratica mal, a administração”. Se há coisas que, efetivamente, não precisamos em administração são de sinônimo. Em administração os conceitos são bastante claros. Entretanto o que presenciamos é uma confusão muito grande. Gerentes que acham que a eficiência e eficácia são a mesma coisa. Outros juram de pés juntos que têm tudo sob controle, mas que o controle é uma função do planejamento, ou que não existe controle sem planos. Outros, ainda acham que definir missão é coisa para padres. Não pode haver eficácia se as pessoas pensam que estão entendendo, mas não estão.

Se reunirmos, por exemplo, dez gerentes de uma mesma organização e solicitarmos que todos escrevam os conceitos de planejamento, organização, direção e controle, provavelmente correremos o risco de termos dez definições diferentes para cada assunto. Mas, atenção. Quando falamos de planejamento, organização, direção e controle, não estamos falando de peças isoladas. Falamos de funções integradas que visam atingir um objetivo maior: o sistema de gestão. Ora, como pode haver gestão se as pessoas estão tentando buscar resultados conversando sobre assuntos para os quais têm percepções e definições divergentes? Impossível.

Pergunte aos mesmos gerentes o que eles leram sobre administração e gerência nos últimos seis meses. Peça-lhes para citarem o nome do livro ou do autor. E, para os casos em que não houver respostas, continue estimulando os participantes, aumentando os prazos.

– E nos últimos 10 meses? … Nos últimos 24 meses? … Nos últimos cinco anos?

Caramba! Você construiria uma ponte Rio-Niterói sem ter formação (conceitos) em engenharia civil? Como entender que é impossível gerenciar sem ter formação (conceitos) para construir as pontes de planejamento, da organização, da direção e do controle? … Só há uma resposta: a ignorância torna as pessoas valentes (tão valentes que assumem cargos para os quais estão completamente despreparadas, sem ler um mínimo de visão sobre os impactos negativos que esta decisão cria para a organização em, consequentemente, para a sociedade).

Como estão seus conceitos de administração e gerência?… Estão claros, ou você os vê como a pássaro de sete línguas?… (bem, neste caso, vá preparando a mistura…).

Wesley Wey Junior

 

Fonte: O ESTADO DE S. PAULO

 

Colaboração: Juca Fagundes.