O quase centenário Centro de Saúde Escola Geraldo Horácio de Paula Souza, a primeira instituição do gênero criada no Brasil no começo do século passado como um Centro de Saúde Modelo, embrião da Faculdade de Saúde Pública da USP, é um marco emblemático da história da Dermatologia brasileira.

A vocação do Centro, inicialmente voltada para o acolhimento e terapia de doentes de hanseníase, logo expandiu-se para a prestação de serviços à comunidade. No plano acadêmico, passou a oferecer um modelo de ensino e treinamento de profissionais de saúde pública que é referência até os dias de hoje.

Todos esses méritos e relevantes serviços prestados à comunidade não são, contudo, garantia de perpetuidade do Centro.

O Professor Dr. Luiz Jorge Fagundes, responsável pelo ambulatório de DST do Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza lembra que, de acordo com a Constituição de 1988, saúde pública é responsabilidade das prefeituras municipais e, portanto, o dispositivo constitucional conduz no sentido da municipalização do Centro de Saúde Escola e à sua transformação numa instituição de caráter puramente assistencial.

“Quando e se isso vier a ocorrer” adverte o Dr. Fagundes “os serviços credenciados da SBD poderão não mais encaminhar seus residentes para treinamento conosco, diante da possibilidade de redução do trabalho de pesquisa e da abrangência das doenças cutâneas atendidas quase que exclusivamente nesta instituição”. Neste quadro sombrio que se anuncia, a atividade de levantamento epidemiológico, a publicação de casos científicos e as reuniões de estudos, discussão e acompanhamento de casos com residentes e especialistas poderão ser prejudicadas.
Numa tentativa de evitar perdas para o longo trabalho realizado e buscar a adequação de uma possível municipalização às conquistas alcançadas ao longo de quase um século, o Dr. Fagundes, ao lado de outros médicos e voluntários do Centro, tem se empenhado em mobilizar apoio para o objetivo pretendido de manter a instituição na estrutura da Universidade de São Paulo como forma de assegurar a continuação dos projetos de ensino, pesquisa e atendimento especializado.
“Para a Prefeitura de São Paulo, o Centro poderá vir a ser mais um prestador de serviços médicos gerais. Seria uma perda. É preciso manter o Centro como Departamento da Faculdade de Saúde Pública da USP”, conclama.
A manutenção deste status permitirá que a Dermatologia Sanitária continue a interagir com os vários departamentos da Universidade, em benefício da saúde da população, além de garantir a continuação de um Serviço de referência.

O Centro de Saúde, instalado na antiga casa da fazenda do escritor Oswald de Andrade e de sua esposa, a artista plástica Tarsila do Amaral, situa-se no complexo onde concentra-se a Faculdade de Medicina da USP, o Hospital das Clínicas e Faculdade de Saúde Pública, na avenida Dr. Arnaldo, no bairro de Pinheiros

A sede da fazenda foi doada ao estado pelo intelectual e promotor da Semana de Arte Moderna com o objetivo de prestar serviços sociais. A casa foi restaurada e abriga atividades com foco em Saúde Pública que incluem a oferta de estágios e treinamento para residentes, médicos e outros profissionais de saúde, bem como o atendimento da população em várias especialidades.

A Dermatologia Sanitária ocupa prédio próprio, construído em meados da década de 80, adjacente à antiga casa. Em ambiente ambulatorial adequado e equipado para realização de intervenções cirúrgicas com a utilização de crioterapia, entre outras tecnologias, em lesões de HPV, molusco contagioso e outras doenças, o Centro oferece atendimento a pessoas encaminhadas pelos postos de saúde e serviços dermatológicos credenciados. Atende, também, casos suspeitos de hanseníase, câncer de pele, dermatites ocupacionais e realização de biópsias, numa vasta gama da Especialidade.

“Só há este ponto de atendimento, em São Paulo, para serviços médicos específicos e especializados para a população que depende de instituições públicas para estas doenças”, resume o Dr. Fagundes.

Um total de 14 residentes de várias instituições universitárias do País, médicos voluntários e um quadro de funcionários composto por médicos, enfermeiros, biólogos e outros especialistas, formam um corpo de atendimento que se desdobra para dar responder à uma ampla demanda de todo o estado e, eventualmente, de outras regiões do país.

Entre as várias especialidades contempladas, além da Dermatologia, incluem-se a Ginecologia, Infectologia e Saúde da Família, entre outras, para as quais é oferecido atendimento multidisciplinar ao público.

O laboratório de DST, modernizado graças ao apoio do médico sanitarista Dr. João Yunes, ex-diretor da Faculdade de Saúde Pública e ex-secretário da Saúde do Estado de São Paulo, é um dos instrumentos importantes para atendimento, principalmente da população carente. “O Dr. Aristides Almeida Roca, diretor da Faculdade de Saúde Pública da USP que substituiu o Dr. Yunes e o Dr. Claudio Gastão Junqueira de Castro, diretor do Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza à época da inauguração do prédio novo foram outros que se alinharam entre os batalhadores pela causa da Dermatologia Sanitária. Parte dos nossos equipamentos foram doados pelo Dr. Antonio Ermírio de Moraes, além do Dr. João Yunes”, acrescenta o Dr. Fagundes.

Parte dos equipamentos foi adquirida graças a esforço pessoal, apoio da iniciativa privada e o trabalho do Ceads – Centro de Estudos e de Apoio à Dermatologia Sanitária, constituído por médicos que atuam nesta área e outros que se solidarizam com esta iniciativa de amplitude social.

O Ceads, entidade de reconhecido mérito comunitário, com foco no apoio aos setores menos favorecidos da cidadania, é apoiado pela SBCD.
Criado em 2007 no Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza, a instituição tem por missão colaborar nos processos de Foco do atendimento na população carente conscientização, prevenção, diagnóstico, tratamento e acompanhamento de doenças como a hanseníase, câncer de pele, dermatoses ocupacionais e DST entre outras de interesse em saúde pública.
Sua atividade envolve ações com foco no esclarecimento sobre as doenças e a busca ativa em empresas interessadas em ampliar o escopo do trabalho preventivo dentro das organizações.

Os resultados obtidos nessas investigações constituem um instrumento de ajuda às autoridades de saúde pública para a execução de políticas preventivas.

Como apoio às suas atividades pedagógicas, o Ceads produz documentos de divulgação com foco em diversos públicos e conteúdo relacionado com Dermatologia Sanitária. Incentiva, ainda, a pesquisa científica e produz trabalhos para divulgação em publicações e apresentação em congressos.
As doenças da pele, em geral, estão entre as principais causas de procura aos serviços de saúde, o que destaca a importância das áreas onde atua o Ceads. A hanseníase, doença milenar que coloca o Brasil ao lado de Índia e de nações africanas e asiáticas menos desenvolvidas, segundo a Organização Mundial da Saúde, continua sendo um dos problemas de saúde pública mais prementes.

Os recursos captados em parcerias, serviços prestados e doações destinam-se ao financiamento de projetos na área da Dermatologia Sanitária, entre os quais fóruns de debates, desenvolvimento de guias e cartilhas de orientação e prevenção de doenças da pele, dvds e palestras coordenadas por voluntários. O apoio a estudos de Mestrado e Doutorado em áreas de Dermatologia também é contemplado com bolsas concedidas pelo centro.

As cartilhas, idealizadas e produzidas no formato de histórias em quadrinhos pelo Professor Dr. Luiz Jorge Fagundes, coordenador científico do Ceads, são muito procuradas por organizações e pessoas que se dedicam à atividade educativa com foco em doenças dermatológicas. Com linguagem acessível a públicos diversos, contêm orientações e medidas de prevenção de doenças e são fruto de projetos desenvolvidos desde 2007.

Os fóruns promovidos pelo Centro são transmitido via web. Já foram realizados cerca de 50 deles, sobre temas diversos, disponibilizados no site do Ceads.

Entre as atividades científicas no âmbito da Cirurgia Dermatológica incluem-se debates recentes com a participação de experts em suas áreas de atuação como, por exemplo, a Dra. Bogdana Victória Kadunc, que abordou o tema Quelóides em web conferência.

Outro cirurgião dermatológico reconhecido, o Dr. Aldo Toschi encerra a série de Fóruns 2014, em novembro, com o tema Procedimentos Cirúrgicos em Tumores Cutâneos, completando um total de dez atividades deste tipo por ano, que são, também, disponibilizadas em vídeo para médicos cadastrados e cobrem uma ampla temática em áreas relacionados com gestão de consultório, materiais, Cirurgia Dermatológica e Dermatologia Clínica, entre outros. “Com relação à SBCD já participaram dos nossos Fóruns o Dr. Francisco Paschoal, atual presidente da SBCD, com o tema Dermatoscopia na Prática Dermatológica, o Dr. Mauro Enokihara, além da Dra. Bogdana Vitória Kadunk, ex-presidente da SBD e do Dr. Aldo Toschi, entre outros”, completa o Dr. Fagundes.