Ele teve câncer de pele aos 31 anos: ‘Era normal ficar vermelho e ardendo’

Data: 22.01.2024

Hoje em dia, Guilherme só se expõe ao sol com esse tipo de chapéu da foto

Na família de Guilherme Bueno Sansone Garcia, 37, era “normal” ficar com a pele queimada, vermelha, ardendo e descascando após um dia de sol na praia. O excesso de exposição solar ao longo de sua vida sem a adequada proteção, porém, o levou a ser diagnosticado com câncer de pele aos 31 anos. A seguir, o diretor comercial conta como a gestação da esposa em meio ao tratamento lhe deu forças para lutar contra a doença.

“Aos 18 anos, passei com um dermatologista porque estava com muita acne e queria fazer um tratamento. O médico examinou o meu corpo todo, tenho muitas pintas, mas ele identificou uma pinta no meio das costas que lhe chamou atenção. Ela media cerca de 5 cm, tinha algumas partes marrons, outras pretas, e apresentava uma textura diferente.

O médico recomendou que eu fizesse uma cirurgia para retirá-la porque havia a chance de ser um tumor maligno. Fiz o procedimento no mesmo dia no consultório, com anestesia local, e fui para casa. Algumas semanas depois o resultado da biópsia deu inconclusivo. O dermatologista disse para eu não me preocupar e pediu para eu observar caso aparecesse outra pinta diferente.

Segui minha vida normalmente, mas 13 anos depois começou a crescer um caroço bem durinho entre o meu pescoço e o ombro esquerdo. Ele não doía, mas passei a ter dificuldades para fazer alguns exercícios na academia e sentia um incômodo quando colocava o cinto de segurança para dirigir.

Depois de adiar minha ida ao médico por alguns meses e de muita insistência da minha esposa, a Marcela, fui à dermatologista. Fiz um ultrassom do pescoço, mas o resultado deu inconclusivo.

A médica me encaminhou para um especialista em cabeça e pescoço. Havia duas hipóteses: linfoma ou tuberculose, mas as doenças foram descartadas ao fazer alguns exames.

Fui submetido a uma punção no caroço e, posteriormente, fiz uma cirurgia para retirada parcial —tirei 5 cm dos 7 cm porque ele estava em uma região delicada e havia o risco de eu perder o movimento do braço esquerdo se mexesse muito.

Após duas biópsias, fui diagnosticado com um tipo de câncer de pele, o melanoma metastático, com mutação BRAF. O tumor de origem estava localizado entre o pescoço e o ombro esquerdo, e os outros menores na pele da garganta e do peito direito,

O médico explicou que uma das causas foi devido ao excesso de exposição solar ao longo da minha vida sem a adequada proteção. Meus pais não tinham o hábito de aplicar protetor solar com frequência em mim quando eu era criança, não havia esse tipo de preocupação.

A gente ia para a praia e era ‘normal’, quase cultural, ficar com a pele queimada, vermelha, ardendo e descascando.

Peguei insolação várias vezes, mas lembro de uma que foi tão forte que nem o Caladryl adiantou e fiquei 30 minutos no banho gelado para tentar aliviar a dor.

Na adolescência também abusei do sol. Quando ia à praia, passava o dia inteiro jogando futebol com os meus amigos, praticamente sem nenhuma proteção solar. Segundo o médico, um outro fator de risco para ter desencadeado o melanoma deve ter sido a pinta que retirei havia 13 anos.

Fiquei assustado com o diagnóstico, afinal tinha 31 anos na época e fazia alguns meses que minha mãe tinha falecido de câncer no colo do útero.

Por outro lado, sou uma pessoa prática, procurei uma oncologista e dei entrada na documentação para participar de um estudo clínico com pacientes com melanoma metastático que fazem o uso de terapia alvo e imunoterapia.

O processo demorou quatro meses, nesse tempo, o tumor voltou a crescer, chegando a ficar maior do que antes da cirurgia. Fiquei angustiado, mas no final deu tudo certo. Iniciei o tratamento em março de 2018, tomo quatro comprimidos diariamente e a cada 15 dias faço a imunoterapia por meio de infusão venosa no hospital.

A resposta inicial foi bem rápida, o tumor diminuiu consideravelmente de tamanho em dois dias, mas sofri com vários efeitos até ajustarem a dose. Um deles foram as dores articulares, sentia muita dor para sentar e levantar. Também tive alteração no paladar —água tinha gosto doce—, além de aftas, inflamação no olho e uma pneumonia medicamentosa.

Após o período de adaptação e de ajuste da dose, hoje em dia só fico um pouco cansado no dia seguinte à imunoterapia, mas de forma geral me sinto bem, consigo trabalhar, me exercitar e ter uma vida normal.

Antes de entrar para o estudo clínico congelei o sêmen porque a médica explicou que as medicações poderiam afetar minha fertilidade. Durante o tratamento, eu e a minha esposa fizemos uma fertilização in vitro.

A gestação, o apoio incondicional da Marcela e o sonho de me tornar pai foi o que mais me fortaleceu para lutar contra o câncer. Precisava sobreviver, estar vivo para poder segurar meu filho, o João Gabriel, no colo, brincar e cuidar dele. Além disso, sou uma pessoa de fé, mantive minha cabeça boa e não deixei me abater.

 

Estou com o quadro estável, continuo fazendo o tratamento e tomo todos os cuidados em relação ao sol. Evito me expor aos raios solares por muito tempo, aplico o protetor solar duas vezes ao dia mesmo em dias nublados.

Uso roupas e acessórios com proteção UV, e utilizo um protetor de pescoço em dias muito ensolarados. Minha mensagem final é para que as pessoas se conscientizem sobre a importância de se prevenir contra o sol para evitar ter um câncer de pele no futuro. Para os que estão em tratamento, tenham fé e força sempre.”

Saiba mais sobre o câncer de pele

O câncer de pele é o tipo mais frequente de câncer no ser humano, tanto no Brasil como no mundo.

Ele surge a partir de uma alteração genética que acomete as células da pele, causada por diversos fatores, dentre eles a radiação solar, formando um tumor. É dividido em melanoma e não melanoma.

O melanoma pode ocorrer em toda a pele (incluindo palmas e plantas) e mucosas. É o tipo menos frequente entre os cânceres de pele, no entanto, é o mais agressivo, de pior prognóstico e maior índice de morbimortalidade devido à alta possibilidade de provocar metástases, isto é, a disseminação do câncer para outros órgãos, como pulmões, fígado e cérebro.

“Estudos apontam que, em média, o melanoma leva a uma perda de 15 anos de vida por morte prematura. No Brasil, esse número chega a 20 anos de vida perdidos. Felizmente, graças aos novos tratamentos e disseminação do conhecimento sobre a doença, a mortalidade tem caído nas últimas décadas”, explica Mirella Nardo, oncologista do Icesp.

Já o não melanoma surge mais frequentemente na pele de rosto e braços por serem áreas mais expostas ao sol. É o tipo de câncer de pele mais prevalente no mundo, mas de menor mortalidade, com altos percentuais de cura se detectado e tratado precocemente. É representado pelo carcinoma basocelular (CBC) e pelo carcinoma espinocelular (CEC).

Os principais fatores de risco para o câncer de pele são:

• exposição prolongada e repetida ao sol, em que a pessoa fica com a pele queimada, vermelha e com bolhas

• histórico pessoal e familiar de câncer de pele

• realização de bronzeamento artificial

• presença de pintas e manchas da pele

• cor da pele mais clara, quando associada a olhos e cabelos claros

• uso de medicamentos que diminuem o sistema imune

• algumas síndromes hereditárias com predisposição ao câncer

De acordo com Carlos Baptista Barcaui, dermatologista, vice-presidente da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e coordenador da campanha Dezembro Laranja, o câncer de pele pode ser assintomático, mas é importante ficar atento a feridas que não cicatrizam; manchas que coçam, sangram ou descamam; dor ou ardência; sinais de nascença ou pintas que mudam de tamanho, forma ou cor e o surgimento de novas manchas, pintas e sinais.

Pessoas com mais pintas pelo corpo apresentam maior risco de terem a doença. Em caso de dúvidas, o indivíduo pode fazer um autoexame conhecido como regra do “ABCDE” que se refere às principais características de lesões malignas suspeitas.

“A” significa assimetria da pinta ou mancha

“B” equivale à presença de bordas irregulares

“C” traduz a presença de diferentes cores na lesão, como preto, marrom, bege, branco, cinza, vermelho e azul

“D” reforça sobre o diâmetro (lesões acima de meio centímetro já são de maior risco)

“E” corresponde à evolução da pinta ou mancha nas últimas semanas ou meses, qualquer mudança deve levantar a suspeita

“Vale reforçar que somente o autoexame não é suficiente para ajudar no diagnóstico precoce do melanoma, por isso, é importante consultar o médico dermatologista para a avaliação geral e regular da pele”, pondera a oncologista, que é especialista no tratamento de sarcomas e melanomas.

Tratamento pode incluir imunoterapia em casos graves

O tratamento para câncer de pele dependerá do tipo, estágio, localização, tamanho e profundidade do tumor, além das condições gerais de saúde geral e história clínica do indivíduo.

“Na maioria dos casos, o tratamento consiste na remoção cirúrgica completa da lesão, que pode curar o câncer se detectado precocemente”, afirma Barcaui, vice-presidente da SBD.

Para os pacientes com doença avançada ou metastática em que a cirurgia não é mais uma opção curativa, é possível indicar a terapia alvo (pílulas que podem ser utilizadas por pacientes com um subtipo especial de melanoma, com a mutação de BRAF) ou a imunoterapia.

“A imunoterapia funciona estimulando o sistema imune que consegue lutar contra o câncer. É como se o sistema imune tivesse uma catraca para a sua ativação que por vezes pode prendê-lo para evitar reações contra o próprio corpo. A imunoterapia anula essa catraca, permitindo a ativação das nossas células de defesa”, explica a oncologista.

Veja dicas para se prevenir contra a doença

Use protetor solar 15 minutos antes da exposição ao sol, e reaplique a cada duas horas ou após longos períodos de imersão na água ou suor.

Aplique duas camadas do produto ou use a regra da colher de chá, na qual se considera a aplicação de 1 colher de chá para o rosto/cabeça/pescoço, 1 colher de chá para cada braço/antebraço, 2 colheres de chá para o tronco e 2 colheres de chá para cada uma das pernas.

Use fator de proteção solar igual ou maior a 30. Evite se expor ao sol no período de maior risco, entre 10h e 16h. Use barreiras físicas com o objetivo de bloquear a radiação ultravioleta, como roupas, chapéus, óculos de sol, e sombras naturais (coberturas de árvores) ou artificiais (guarda-sóis, tendas e coberturas de edifícios).

Use equipamentos de proteção individual se for um profissional que se expõe ao sol durante o trabalho. Realize o autoexame da pele e faça acompanhamento com dermatologista. …

– Veja mais em https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2024/01/21/com-cancer-de-pele-aos-31-ele-diz-que-ficar-com-a-pele-queimada-era-normal.htm?cmpid=copiaecola

 

Ele teve câncer de pele aos 31 anos: ‘Era normal ficar vermelho e ardendo’